Estamos ligados Por fios Brancos E trémulos Lírios Que avançam na alma ao lado De quem vivemos Linhas oscilantes Entre a primeira mácula E a suprema brancura Fugazes Ou inocentes Premimos as mãos Na alvura No abismo.
cristina tavares
Pedras
C. tinha uma colecção de pedras quando era pequenina, mas a mãe deitou-lha fora. J. teve uma pedra. À volta dela os efeitos pareciam diamantes. D. atirou uma pedra ao irmão e partiu-lhe a cabeça. A.C. tem uma pedra de estimação. Chama-se Marmita. A lua é uma pedra ou um queijo? R. encontrou uma pedra na praia e ainda não a deitou fora. Pedras, S. não tem. Mas o pai tem. Uma pedra é pó. Um grão de areia é uma pedra. Se fossemos mais pequenos que formigas, um grão de (...)
(...) estou perante a tua graça como uma criança na água, como um ramalhete de flores num grande bosque. Nocturno, o universo move-se no teu calor e as cidades de ontem têm gestos de rua mais delicados do que a flor do espinheiro, mais impressionantes do que a hora. A terra ao longe multiplica-se em sorrisos imóveis, o céu envolve a vida: um novo astro do amor desponta em todos os horizontes, e eis que os últimos sinais da noite se desvanecem.
Paul Eluard
Ela está de pé nas minhas pálpebras Com os dedos nos meus entrelaçados. Ela cabe toda em minhas mãos, Ela tem a cor dos meus olhos E desaparece na minha sombra Como uma pedra sobre o céu.
Paul Eluard
Hélicon Pessoal Em criança, que ninguém me tirasse os poços E velhas bombas de água com baldes e sarilhos. Gostava da gota no escuro, do céu preso em água, De odores a ervas, fungos e musgos húmidos. De um, numa fábrica, sob tábuas podres, Gozava o som opulento que um balde fazia Mergulhando na ponta de uma corda. Tão fundo que o reflexo não se via. Menos fundo, à sombra de um talude, Um outro era fértil como um aquário. Ao puxar longas raízes de um macio lodo Pairava sobre (...)
Habito na Possibilidade- Uma Casa mais bela do que a Prosa- Com mais Janelas- E Portas - maiores-
Salas como Cedros- Que o Olhar não alcança- E como Tecto Imperecível Os Limites do Céu-
Visitantes- os mais belos- Ocupação-Esta- Abrir ao máximo as minhas Mãos finas Para colher o Paraíso-
emily dickinson
textos de: Ana e Raquel ( 12 anos)
1 homem galante 2 macacas ou 3. Quando lá chegou 4 homens lhe disseram: 5 euros para cá 6 bilhetes para lá 7 palhaços 8 chaves a esconder 9 vidas para viver 10 são as macacas. Não 11. Ora, 12, enganei-me. Vim dar 13 voltas à macacada.
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1 senhora elegante foi visitar 2 moças saudáveis no meio de 3 micróbios 4 eram malucos 5 eram normais 6 já não existiam 7 comiam lagartas 8 comiam caixotes 9 dias passaram 10 na solidão.
A poesia é oferecida a cada pessoa só uma vez e o efeito da negação é irreversível.
O amor é oferecido raramente e aquele que o nega algumas vezes depois não o encontra mais.
Mas a santidade é oferecida a cada pessoa de novo cada dia e por isso aqueles que renunciam à santidade são obrigados a repetir a negação todos os dias.
sophia de mello breyner andresen
Quero uma vida em forma de espinha Num prato azul Quero uma vida em forma de coisa No fundo dum sítio sozinho Quero uma vida em forma de areia nas minhas mãos Em forma de pão verde ou de cântara Em forma de sapata mole Em forma de tranglomanglo De limpa-chaminés ou de lilás De terra cheia de calhaus De cabeleireiro selvagem ou de édredon louco Quero uma vida em forma de ti E tenho-a mas ainda não é bastante Eu nunca estou contente.
boris vian
as minhas botas vermelhas o meu casaco de veludo azul os olhos para ver o mundo o mundo o meu filho o saco de água quente nas mãos a poesia o sol a relva passear o woody dar festas ao woody as pinturas que ainda farei levar o joão demanhã à escola ver o melro de cauda branca o canto dos pássaros no "hyde park" a minha irmã a minha amiga n. ir a lisboa depois de muito tempo escrever évora o jardim do paraíso estar com os alunos fazer bons cozinhados ter cartas no correio van gogh o (...)